miércoles, 8 de octubre de 2008

Antología Latinoamericana Un Canto a Iberoamérica: Goulart Gomes

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GOULART GOMES - Brasil
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Goulart Gomes nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, em 1 de Maio de 1965. Estreou na Literatura em 1984, aos 19 anos, escrevendo o cordel A Divina Comédia, incentivado pelo poeta Rodolfo Coelho Cavalcante. Em 1985 publicaria seus poemas, pela primeira vez, na antologia internacional Universos na Esperança de Amor e Paz, organizada pela Federação Baiana de Escritores. Em 1987, aos 22 anos, publica seu primeiro livro de poemas, Anda Luz. No ano seguinte obtém o primeiro lugar no Concurso de Poesias do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, tem poemas publicados na antologia International Poetry Yearbook (EUA) e, em 1990, na World Poetry (Coréia do Sul). Em 1991 a revista Jalons (França) cita seu livro de poemas Todo Desejo. Em 1993 seria a revista Clarín (Espanha) que divulgaria seus poemas. Em 1994 integra a antologia Calliope (Itália) e publica Sob a Pele, poesias. Inicia suas atividades de editor em 1995, com a criação do Grupo Cultural Pórtico, publicando a antologia Tempoema. Nos dez anos subseqüentes, o Pórtico publicará 51 livros de novos autores e antologias, sendo duas delas internacionais, com autores da Espanha (Nosotros) e Cuba (Hermanos). Em 1997 escreve sua única peça teatral A Greve Geral, ainda não encenada. Recebe o título de Ativista Cultural, em 1998, pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil. Cria a linguagem poética POETRIX e o Movimento Internacional Poetrix, para sua divulgação, em 1999, quando publica o livro Trix Poemetos Tropi-kais, que inclui o Manifesto Poetrix, premiado no ano seguinte com Menção Especial, no Prêmio Jorge de Lima, da União Brasileira de Escritores (RJ) e Academia Carioca de Letras. Em 2000 é premiado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, com a publicação do livro Linguaja, o Território Inimigo, pelo selo Letras da Bahia. Participa, ainda, da antologia Poesía de Brasil (Brasil/Cuba), do Proyecto Cultural Sur. Seu trabalho como letrista é reconhecido em 2001, ao ser o vencedor do Festival Prata da Casa Petrobras, juntamente com o compositor Cal Ribeiro, pela música Cabralina, que homenageia João Cabral de Melo Neto. A União Brasileira de Escritores (RJ) volta a conceder-lhe Menção Honrosa, desta vez pelo livro Linguaja, o Território Inimigo, no Prêmio Joaquim Norberto. Ainda naquele ano, Goulart Gomes é incluído como verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho. Seu poema A Última Cruzada é o vencedor do VII Prêmio Escriba de Poesia 2002, dentre 3.618 poesias inscritas, de 25 estados e 12 países. Seus poetrix são publicados no boletim Lavra, de Portugal, em 2003, primeiro periódico europeu a divulgar essa linguagem literária. Também em 2003 estréia como contista, com o livro Todo Tipo de Gente, ano em que obtém pós-graduação em Literatura Brasileira. É mais uma vez publicado na antologia World Poetry (Coréia do Sul). Em 2004 publica o ensaio Matrix Revelations – Tudo o que você queria saber sobre o filme. Em 2007 publicou o livro Minimal, Dos Males o Menor, que reúne todos os seus poetrix escritos até então. Além de manter dois sites na Internet, tendo trabalhos divulgados em dezenas de outros, seus livros virtuais (e-books) disponibilizados gratuitamente, já ultrapassaram a marca de 20.000 cópias. Ao longo dos seus 21 anos de literatura, Goulart Gomes já obteve 65 prêmios em concursos literários e festivais de música, publicou dez livros, oito e-books, três livretos, integrou 12 antologias internacionais, 26 nacionais, além de participar de CD, enciclopédias, dicionários, revistas e jornais de todo o Brasil e do exterior.
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MEA CULPA

Diga que amordaçaram sua boca
quando você quis gritar
Diga que o manietaram
quando você quis esbravejar
Diga que amarraram suas pernas
quando você quis lutar
Mas ninguém viu seus inimigos!
Ninguém o viu abrir a boca
Ninguém o viu, sequer, esboçar um gesto
Não havia ninguém para impedi-lo
de fazer o que deveria ser feito!
O que lhe faltou foi peito
foi o grito, e a coragem
o que lhe falta é sangue humano nas veias
e indignação
Você, que sempre se refugiou por trás
das portas podres
Que sempre caminhou nas sombras
fugindo dos holofotes
Por isso, não me venha chamar de amigo, de companheiro,
comer do meu pão, beber da minha cerveja:
eu não compactuo com os canalhas
não troco a minha honra por dinheiro.

Se tudo que eu tenho nada vale
- minha vida, minha ira, minha dignidade _
basta-me a cabeça erguida
a certeza de que não beijei os pés dos importantes
nem a tudo disse "amém"
E é por isso que não calo meu grito
e por você não ser quente, nem ser frio
eu lhe desprezo, eu lhe ignoro, eu lhe vomito!
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A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Quando chegaram
eu tinha sementes nas mãos.
Eles disseram:
"Cuidaremos de tudo
adubaremos sua terra
ceifaremos as ervas daninhas
ergueremos pontes e moinhos
traremos a chuva
confie em nós
e tenha esperança.
Tudo vai mudar."
Os dias passaram
a terra secou
as ervas daninhas se multiplicaram
o celeiro apodreceu
e meus sonhos se desvaneceram.
Eles tinham razão: tudo mudou.
Em meio ao nada
confundo-me com os espantalhos
sem teto, sem terra
sem vontade.
Os corvos comem as sementes
em minhas mãos.

*A Revolução dos Bichos é o título de um livro de George Orwell
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AMANHEÇO EM NEW YORK
é noite
e a cidade me abre suas pernas
cruzo-lhe as vias, suas artérias
em ziguezagues pelo asfalto
é noite
alternância de luzes
néons, mercúrios, fluorescentes
halógenas
positivo, negativo
postes e fios
semáforos piscam nos cruzamentos
alternâncias de poucas gentes
carros lentos
e eu, rápido
sessenta, oitenta, cem
um pouco mais talvez
ônibus lentos
táxis velozes
gatos e cães
virando latas
rasgando sacos plásticos
pretos, azuis
em alguns cantos
bares abertos
em alguns postos
carros parados
som alto
para espantar as idéias
a cerveja chove
a urina escorre
e algumas estrelas
insistem em enfeitar o céu
entre prédios enormes
casas velhas
de pessoas velhas
aguardando demolição
a poluição do dia se dissipa
faz frio, então
mantenho as janelas fechadas
olho as fachadas
decoro-lhes as cores
para lembrar no futuro:
as ruas envelhecem rápido
nascem de novo
alguns centímetros de betume
mais altas
são moedas gigantes
as tampas de bueiro
são grades de ratos
as tampas das sarjetas
e são máscaras
algumas faces
o ponteiro do combustível na reserva
e eu sem limite
no cartão de crédito
ora, limites existem
para serem quebrados
os limites são os postes
são os muros
os carros existem para serem quebrados
amanheço em New York
sem gasolina
a maçã me morde
caem vidros, caem pedras, caem pessoas
eu vi a ovelha dolly balir
armstrong pisar na lua
e o primeiro transplante de coração
eu, que nunca me esqueci do Vietnã
vi a segunda torre cair
naquela manhã
neste world crazy center
eu vi a estrela cadente
as câmeras da CNN
e cinco mil almas subirem aos céus
nenhuma pedra sobre pedra
tudo ao pó retornar
e com as torres ruírem
minhas últimas esperanças de paz
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O ANALFABETO IDEOLÓGICO

ou Carta Aberta a Herr Brecht
O pior analfabeto é o analfabeto ideológico.
Ele desconhece a importância
do respeito ao ser humano
e é capaz até de destruir tudo à sua volta
pelas suas crenças.
Ele é o pai de todas as guerras.
O analfabeto ideológico é tão burro
que ignora que milhões de pessoas foram mortas
em Auschwitz, em Kronstadt, no Arquipélago Gulag,
em Hanói, em Saigon, em Leningrado, Havana,
Hiroshima e Nagasáki
pela ignorância dos politicamente alfabetizados.
O analfabeto ideológico já não se lembra
do napalm atirado em crianças, no Vietnã
dos tanques esmagando jovens em Beijing
nem da Primavera de Praga.
Ele esqueceu dos desaparecidos
no Araguaia, em Buenos Aires,
em Santiago do Chile.
O analfabeto ideológico
explode bombas contra católicos e protestantes
em Dublin
e contra judeus e muçulmanos
em Jerusalém.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância
nasce o mutilado, o órfão,
o neurótico de guerra, a viúva,
las madres de Plaza de Mayo,
as ditaduras.
Tudo isso porque
o analfabeto ideológico tem uma visão estreita,
uma amnésia do passado
e nenhum compromisso com o futuro.
Ele já leu todas as biografias dos grandes estadistas,
mas nunca a do Mahatma Gandhi,
que foi líder sem ser governante
e por isso desconhece ahimsa: a lei da não-violência.
Em seu radicalismo
ele não ouve, não respeita, não conhece
(ainda que seja para criticar)
outras ideologias, que não a sua.
Ele está preocupado em promover
a discórdia, o confronto,
e não tem o menor respeito à Vida:
nem à sua, nem à dos outros.
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UM POVO

Existe um povo triste
que ocupa os tronos dos ônibus
e faz cetros dos postes
Homens que irrigam os muros com amoníacos
e mulheres desesperançadas
Um povo que não se entende
que se entredevora
despreza suas raças
Um povo bom, cordeiro
que se deixa roubar e prender
por trinta dinheiros
sorrindo para as águias
humilhando seus iguais
Sucumbido aos confiscos,
aos impostos, aos políticos
de todas as bandeiras
se refugia na orgia dos carnavais
Não se extingue porque é saúva
Tantas vidas que a fome não dá conta
e há sempre mais
Gente amada, feita amarga por falta de doce
gente precoce, grande
diante da pequenez dos estados
químicos da tristeza
Um povo que se confunde
equivocado pelos caminhos
nem sequer tangido. Largado
aos próprios desígnios
homens de toda ordem
sem progresso, a ver estrelas
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BATALHA FINAL

Se amanhã me condenarem à morte
ou se o Halley beijar sofregamente a Terra
quero ver por último o brilho dos teus olhos.
Quando a praia vier dar no meu quintal
e todo magma exsudar na minha sala
vou inalar profundamente os teus cabelos.
Quando toda lava do Vesúvio e
todo suspiro dos vendavais
assomarem à minha rua,
será no teu colo que estarei deitado
(des)esperando o último momento.
Ainda que todo o sal dos oceanos
e toda terra das montanhas
aterrissem no meu teto,
só teus lábios soterrarão meu corpo.
Os tanques cinzas do Tio Sam estacionarão no Abaeté
e ferirão o farol com seus punhais
mas eu estarei deitado
acima, abaixo, sob, sobre, ao lado
em você, de qualquer jeito,
quando todos se forem, míssil indetonado.
E quando os patriots e exocets desfizerem
minhas nuvens
não haverá dia seguinte:
estarei no túmulo dos teus braços
explodindo em milhões de átomos, desintegrando:
o último soldado desconhecido...
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LORCA

O sangue escoado de Lorca
não encontrou repouso
nem saciou sedes,
escorreu pelos sulcos da terra
e seivou de árvores vida
verde que te quero e rubra
punhal fendendo o tronco da seringa.
Seu sangue derramado
coalha às cabeças francas
das guardas civis (quais as nossas)
e militares;
revolta, felonia e traição
ah! se seus trinta e sete anos
fossem mais
e andar luzia não bastasse
correr o chão.
Martírio desnecessário
de amar um povo irmão de
um mundo inteiro
por pensar de muitas cabeças
cortadas.
De Espanha que chora Guernica,
Picasso e Dalí
quanta vida escapou de cá - ! -
sonhar de mouros e ciganas
quantos anos haverá
quantos homens; morrerá
de amar a vida, amar
que o amor não morre, fica guardado
qual adaga curta em vagínula
peito de soldado.
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POEMA IRMÃO
Vamos erguer o tronco
meus Irmãos do Campo
arrancar nossas raízes
erguermo-nos sobre os homens
dar-lhes sombra, frutos e grãos
a terra a quem lhe rega a suor
quem da planta dos pés lhe conhece os sulcos
e com as mãos cheias
semeia
Vamos abrir as bocas e tinir as chaves
meus Irmãos das Fábricas
nossas botas e capacetes lembram lutas
onde só nosso sangue correu;
o grito agonizante das sirenes nos diz
que é hora de acordar
e não vender nossas vidas
Vamos construir nosso tempo
meus Irmãos dos Andaimes
temos uma pá de razões
e um caminhão de desesperanças;
não viemos de peito aberto, mas concreto
e se há uma massa a ser misturada
esta massa somos nós
Vamos registrar nosso número
meus Irmãos das Salas
de penas apenadas
e mostrar nosso papel
Queremos as mesas de nossas casas também fartas
arquivar nossas necessidades

Vamos caminhar, meus Irmãos de Trabalho
com nossos próprios passos
e tornar ouvida nossa Vontade;
não mais pedir, mas fazer
não mais oferecer, mas cobrar
o justo preço que tudo tem
Cada homem uma letra, uma semente, um tijolo
no trabalho maior que podemos fazer:
erigir nossos sonhos
darmos os braços
unir nossa voz
para que nossos filhos sejam muito mais
Irmãos!
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CANTO PELAS ALMAS CINZENTAS

Cantemos por todas as guerras
por todas as feras
por todos os homens.
Pelos aitolás e husseins
por todos os kadafis
por todos os politburos
por todas as casas
brancas ou rosadas.
Façamos chegar nossas vozes
nossos prantos
pelas crianças que se perderam nos caminhos
dos desertos,
cantemos pelos oásis
que não chegaram;
pelas mães que padeceram
sem alcançarem os paraísos;
pelos homens que se foram pela paz.
Elevemos nossas vozes
para que elas afundem os navios
e façam calar os sons estridentes
dos metais incandescentes.
Cantemos um canto indecente
para esconder nossas vergonhas,
cantemos um canto-tanque
mais forte que as correntes
mais leve que os aviões.
Vamos cantar, de braços abertos
em cada praça de paz celestial,
vamos cantar pelo napalm,
pela menina nua que ainda chora na foto:
o tempo parou no Vietnã.
Por favor, cantem!,
pela bandeira fincada na Lua
e pela de Iwo Jima,
pelos cogumelos vaporosos
pelo Armagedon
pela dureza dos nossos rócheos corações
e pela sutileza das nossas vontades.
Apaguemos as pegadas das botas
os emblemas das testas
as divisas dos ombros:
não existem guerras santas.
Vamos abafar as vozes metálicas
das armas,
as vozes microfônicas
dos cegos de alma
e no Universo, sonar, uníssonos
o nosso canto de amor
à Paz.
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Mensaje al lector:
Cada Poeta participante acepta su responsabilidad exclusiva de sus contenidos literarios de sus creaciones. También esta Antología puede ser publicada en las páginas web de cada Autor o ser replicada por otros medios como ser fónico, magnético, fílmico, siempre y cuando los autores den su consentimiento expreso a quien desee promulgar esta Antología. Si algún Poeta tiene la iniciativa de inscribir en su país el derecho de autor, éste deberá quedar a nombre de todos los Escritores. Para fines expresamente literarios, quien coordina el Proyecto es el Doctor Atilio Laurence Almagia.
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